Che Guevara: O Eterno Ícone da Revolução

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Um Retrato da Coragem e do Legado

Era um dia quente em La Higuera, na Bolívia, quando o suboficial do exército boliviano, Mario Terán, entrou em uma pequena sala que servia como cela. Ele parecia hesitante, olhando para o chão, enquanto carregava a tarefa sombria que lhe fora dada. A ordem era clara: disparar tiros abaixo do pescoço do prisioneiro, a fim de simular um enfrentamento. Mario Terán, mais tarde, admitiria ter levado 40 minutos para tomar a decisão final. Antes disso, ele até procurou o Coronel Pérez, na esperança de que a ordem tivesse sido revogada. No entanto, os gritos do coronel dissiparam qualquer dúvida.

As instruções vinham de Felix Ismael Rodriguez, um experiente agente da CIA que havia liderado uma tentativa de invasão em Cuba em 1961. Terán entrou na sala e viu Che Guevara, com as mãos amarradas, sentado em um banco. “Você veio para me matar”, advertiu Che com voz firme. Terán permaneceu em silêncio. Che perguntou sobre os outros companheiros de guerrilha que haviam sido capturados e mortos. “Nada”, respondeu Terán. O sorriso de Che surgiu. “Eles foram corajosos!”, exclamou.

Nesse momento, Che, com sua perna gravemente ferida, levantou-se e desafiou Terán: “Atire, seu covarde, você vai matar um homem!”.

Anos depois, Terán compartilharia sua versão do evento. Ele descreveu Che como alguém imponente, cujos olhos brilhavam intensamente. Terán sentiu que Che estava sobre ele, e o prisioneiro disse: “Fique calmo e mire bem, você vai matar um homem!”.

Às 13:10 do dia 9 de outubro de 1967, Félix Ismael Rodríguez anotou em seu caderno o som dos tiros. A CIA finalmente havia conseguido assassinar o homem que desafiou seus agentes de inteligência inúmeras vezes. Eles haviam violado todos os protocolos de guerra, matando a sangue frio um prisioneiro em um último ato de vingança contra a revolução socialista a apenas 150 quilômetros dos Estados Unidos.

Naquela tarde, o corpo de Che Guevara foi levado de helicóptero para Vallegrande, uma cidade boliviana. Lá, seu corpo foi exposto na lavanderia do Hospital Nuestro Señor de Malta, como se fosse um troféu. Soldados, agentes de inteligência, funcionários do governo e jornalistas passaram para ver o homem que aterrorizou os poderosos e inspirou os humildes.

Aproveitando um momento de distração, as enfermeiras cortaram mechas do cabelo de Che, que seriam usadas para construir santuários em sua homenagem.

Na madrugada de 11 de outubro, a CIA e o exército boliviano decidiram desaparecer com os restos mortais de Che e dos outros membros da guerrilha, temendo que seus túmulos se tornassem locais de peregrinação. No entanto, o medo não conseguiu apagar a fé do povo. Até hoje, milhares visitam o local, a 60 quilômetros de La Higuera, onde ele foi morto. Uma placa ali diz: “ninguém morre enquanto ele for lembrado”.

“A participação de Che na Guerrilha da Bolívia está ligada à necessidade de internacionalização da revolução”, explica Disamis Arcia Muñoz, pesquisadora do Centro de Estudos Che Guevara. “O internacionalismo não é apenas solidariedade, mas também a expansão da revolução para a transição socialista em Cuba. Che foi um dos principais arquitetos dessa política externa, juntamente com Fidel e Raúl Roa, então ministro das Relações Exteriores”.

Os anos intensos, desde o triunfo da Revolução Cubana até a morte de Che em 1967, foram marcados por intensos debates e pesquisas teóricas. Ele dedicou-se ao trabalho ministerial, ao estudo do marxismo, ao debate com trabalhadores e à produção de textos.

Che Guevara não pode ser dividido entre teoria e prática. Ele foi um filósofo da práxis, deixando um legado para as lutas atuais. Como Fidel expressou na época: “Queremos que eles sejam como o Che!”.

Em 2007, uma campanha médica cubana restaurou a visão de Mario Terán, o homem que matou Che Guevara. Seu filho agradeceu aos médicos cubanos, mostrando que, mesmo após sua morte, Che continuou inspirando ações humanitárias.

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