Desinformação Contribui para Perpetuar Racismo Contra Palestinos

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Na esfera da comunicação política, o fenômeno da desinformação, conhecido como o “efeito da verdade ilusória,” assume um papel relevante. Este efeito descreve a tendência das pessoas a aceitarem como verdade informações falsas que são constantemente repetidas.

A repetição contínua é a força motriz por trás do fortalecimento das mentiras, e a exposição constante a ideias e conceitos que veiculam informações equivocadas pode transformá-las em realidade para muitos.

Hoje, a internet e as redes sociais são terrenos férteis para a disseminação de uma multiplicidade de notícias falsas. Ao contrário de informações imprecisas ou errôneas que podem surgir por equívoco, a desinformação deliberada é disseminada com o intuito de propagar medo e suspeitas.

Os agentes da desinformação, bem como os intermediários que traficam nessas narrativas distorcidas, têm uma capacidade notável de amplificar suas mensagens para alcançar um público mais amplo, ultrapassando as fronteiras de suas câmaras de eco pessoais.

Fabricação de Narrativas Sociais

Através de meios de comunicação e redes coordenadas, são disseminadas narrativas islamofóbicas e antipalestinas. Com o tempo, essas narrativas são internalizadas como fatos sociais, especialmente em períodos de guerra, conflito e intensa agitação política.

Em tempos de crise, a propagação de narrativas desumanizadoras e “histórias assustadoras” pode autorizar a violência em massa. Populações inteiras são retratadas como “inimigos públicos” desviantes, responsáveis por crimes e problemas sociais. Essa construção de um pânico moral serve para justificar atos de opressão.

Uma Ameaça de Consequências Gravíssimas

No livro “Sob Cerco: Islamofobia e a Geração do 11 de Setembro,” documentou-se como, desde os trágicos eventos de 11 de setembro, mais de dois bilhões de muçulmanos em todo o mundo foram submetidos a uma punição coletiva. Foram retratados como “inimigos públicos” que ameaçavam as sociedades ocidentais, sendo indevidamente associados ao apoio e promoção da violência.

Recentemente, essas narrativas generalizadas foram refletidas em declarações públicas de políticos canadenses, incluindo o primeiro-ministro Justin Trudeau. A prefeita de Toronto, Olivia Chow, descreveu os recentes protestos e movimentos de solidariedade aos palestinos como “glorificando” a violência, rotulando todos os participantes desses eventos como “apoiadores do Hamas.”

A proliferação generalizada do discurso islamofóbico tem contribuído para estereótipos disseminados sobre muçulmanos e palestinos (inclusive aqueles que não são muçulmanos) como propensos à violência e ao terrorismo. Quando políticos adotam essas narrativas racistas, equivocadamente equiparam o apoio ao povo palestino ao apoio ao terrorismo, propagando medo e pânico moral em relação à presença muçulmana em seus países.

Consequências Políticas e Sociais

Essas atitudes negativas têm se traduzido em políticas e práticas antimuçulmanas. Recentemente, a Biblioteca Pública de Markham, em Ontário, removeu temporariamente exposições relacionadas ao Mês da Herança Islâmica de suas filiais, após um e-mail indicar que, devido à situação no Oriente Médio, seria melhor evitar a promoção ativa do Mês da Herança Islâmica.

A islamofobia, infelizmente, tem implicações mortais, incluindo histórias fictícias sobre gangues de aliciamento de muçulmanos na Europa. Afirmações infundadas, como a alegação de que o Hamas decapitou e queimou 40 bebês israelenses, foram repetidas por líderes internacionais, celebridades e meios de comunicação, apesar da falta de confirmação oficial por parte das autoridades israelenses.

Essas campanhas de desinformação resultaram, de maneira trágica, no assassinato de Wadea Al-Fayoume, um menino muçulmano palestino-americano de seis anos, em Plainfield, Illinois. Ele foi esfaqueado 26 vezes, supostamente pelo proprietário branco de sua família, que também é acusado de esfaquear repetidamente a mãe de Al-Fayoume, proclamando: “Vocês muçulmanos devem morrer!”

Em tempos de guerra e conflito, a desinformação se torna a primeira arma a ser empunhada. Em uma era em que as informações podem ser manipuladas e distorcidas, o público deve estar preparado para distinguir entre fatos e ficção, pois as narrativas fictícias muitas vezes se disfarçam de realidade, com consequências devastadoras.

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