Descobertas apontam para expansão dessas formações intrigantes em várias partes do mundo
No reino da ciência, os círculos de fadas há muito são enigmas naturais que povoam a imaginação de pesquisadores e curiosos. Tradicionalmente encontrados em locais áridos da Namíbia e Austrália, essas estruturas geométricas naturais, caracterizadas por anéis de vegetação circundando solo “nu”, sempre foram alvo de especulações e estudos.
No entanto, um estudo recente publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, liderado pelo Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha (CSIC), revelou que essas formações misteriosas são muito mais prevalentes do que se acreditava anteriormente. Os círculos de fadas foram agora identificados em 263 regiões, abrangendo 15 países e três continentes, graças a uma abordagem inovadora que combina inteligência artificial e imagens de satélite.
Os pesquisadores por trás desse estudo notável, liderado por Manuel Delgado Baquerizo, líder do Laboratório de Biodiversidade e Funcionamento de Ecossistemas (BioFunLab) do CSIC, estão lançando nova luz sobre o surgimento dessas formações. Ao contrário de explicações anteriores, que sugeriam a influência de cupins e crescimento natural da vegetação, os cientistas descobriram que os círculos de fadas estão associados a características específicas do solo, incluindo baixos níveis de nutrientes e alto teor de areia. Essas formações também tendem a aparecer em regiões áridas com altas temperaturas e precipitação média inferior a 200 mm por ano.
O estudo foi além, considerando fatores como albedo (a capacidade de reflexão da superfície) e a condição dos aquíferos nas áreas com círculos de fadas. Jaime Martínez-Valderrama, coautor do estudo e membro da Estação Experimental de Zonas Áridas do CSIC, enfatizou a importância do uso consciente das águas subterrâneas em regiões áridas, pois isso pode afetar essas formações frágeis.
Uma descoberta particularmente intrigante é a relação entre a presença dos círculos de fadas e a estabilidade da produção primária da vegetação local, que é a síntese de matéria orgânica a partir de compostos inorgânicos. Essa estabilidade é vista como fundamental para o fornecimento consistente de serviços ecossistêmicos, como a produção de forragem. Esta pesquisa marca a primeira evidência empírica desse tipo de estabilidade nas regiões com círculos de fadas.
Fernando T. Maestre, professor de ecologia da Universidade de Alicante, na Espanha, e coautor da pesquisa, observa que esses resultados também podem indicar a capacidade dos padrões espaciais dos círculos de fadas de servirem como indicadores de degradação do ecossistema devido às mudanças climáticas, algo semelhante a outros padrões espaciais de vegetação em zonas áridas.
Em resumo, essa descoberta nos leva a uma compreensão mais profunda das complexidades ecológicas dos círculos de fadas, ampliando o horizonte do conhecimento científico enquanto deixa espaço para novas questões e investigações. Os mistérios da natureza continuam a surpreender e encantar, à medida que exploramos os segredos ocultos sob os nossos pés.
