Compreendendo as Raízes do Discurso de Ódio e Violência
Em um cenário que desafia as percepções tradicionais, um estudo recente lançou luz sobre a proliferação da ideologia “incel” no TikTok. O termo “incel” é uma abreviação para “celibatários involuntários”, homens que acreditam ser incapazes de estabelecer relacionamentos românticos devido às hierarquias sociais baseadas em aparência, dinheiro e status, nas quais as mulheres detêm o poder. Essa ideologia tem sido associada a discursos de ódio de gênero e violência, levantando preocupações em termos de segurança.
A pesquisa, liderada por Anda Solea, pesquisadora da Escola de Criminologia e Estudos de Justiça Criminal da Universidade de Portsmouth, evidenciou que as visões misóginas e violentas dos “incels” não estão mais confinadas a recantos obscuros da internet, mas também encontraram um terreno fértil no TikTok. Este estudo, intitulado “Integrando o Blackpill: Compreendendo a Comunidade Incel no TikTok,” e publicado no European Journal on Criminal Policy and Research, desafia a suposição de que os “incels” são uma comunidade clandestina, afastada das plataformas populares.
A pesquisa analisou duas contas “incel” proeminentes no TikTok, examinando 52 vídeos e 1.657 comentários. Ela revelou que, nesta plataforma, a ideologia “incel” assume uma forma mais sutil, sendo transmitida por meio de apelos emocionais e pseudocientíficos. Os “incels” utilizam técnicas de linguagem suficientemente implícitas para evitar a moderação de conteúdo, ao mesmo tempo que perpetuam suas crenças de ódio.
Entre as estratégias identificadas estão o uso de gráficos, inquéritos e informações deturpadas, muitas vezes baseadas em conceitos de psicologia evolucionista e determinismo biológico, com o objetivo de “revelar a verdadeira natureza das mulheres”. Além disso, eles recorrem a tendências populares, como clipes de TV e memes, para retratar a humilhação e o sofrimento dos “incels” nas mãos das mulheres, buscando evocar empatia.
O estudo alerta que as crenças “incel” estão intrinsecamente conectadas ao sexismo e à misoginia estrutural na sociedade. Vídeos e comentários podem perpetuar ideias que justificam o estupro, incluindo a negação da importância do consentimento e a alegação de que as acusações de agressão sexual são usadas por mulheres para prejudicar os homens. Isso representa um desafio para os formuladores de políticas e uma ameaça real para as mulheres.
A coautora do estudo, Dra. Lisa Sugiura, professora associada de crimes cibernéticos e gênero na Universidade de Portsmouth, enfatiza que essas abordagens sutis visam a um público mais amplo, incluindo aqueles que podem não estar familiarizados com a complexidade da ideologia “incel.” À medida que o TikTok ganha popularidade, é imperativo compreender e abordar a crescente atividade “incel” na plataforma.