À medida que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se aproxima, a queda nas inscrições para o exame reflete uma transformação profunda nas ambições dos jovens em relação ao ensino superior. O número de inscritos, atualmente quase quatro milhões, está longe dos mais de nove milhões que participaram entre 2012 e 2016.
Lorrana Nascimento, uma educadora popular e membro da Rede de Cursinhos Populares Podemos +, analisa esse cenário e destaca uma mudança de perspectiva em relação ao ensino superior. Segundo ela, a desilusão em relação ao sistema público de ensino superior, combinada com o desinvestimento educacional recente, levou os jovens a repensar a relevância do diploma universitário como trampolim para uma vida melhor.
“O ensino superior público passou por uma descaracterização, e os jovens não o veem mais como uma garantia de ascensão social,” observa Lorrana. Ela lembra que, entre 2012 e 2016, durante os governos petistas, o aumento nos investimentos em educação coincidiu com um entusiasmo renovado em ingressar na universidade.
“Acredito que a falta de mobilização dos estudantes é, em grande parte, devido à desconfiança no próprio sistema de ensino como uma ferramenta para alcançar o progresso social. Além disso, o governo anterior atacou duramente o setor educacional,” explica.
Este ano, os candidatos também criticaram os locais de prova designados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que muitas vezes estavam muito distantes de suas residências. Cerca de 50 mil pessoas foram afetadas por essa situação.
Em resposta às críticas, o Inep anunciou que irá reaplicar as provas nos dias 12 e 13 de dezembro para aqueles que comprovarem morar a pelo menos 30 km do local de prova original indicado em seus cartões de inscrição. No entanto, isso não alterará o cronograma oficial, e o exame continuará nos dias 5 e 12 de novembro.
Lorrana ressalta que essas falhas no processo podem afetar significativamente o bem-estar emocional dos candidatos e, consequentemente, seu desempenho no exame. “Isso tem um impacto significativo na preparação emocional dos estudantes ao longo do ano, tornando o processo de engajamento mais desafiador,” observa.
Apesar dos desafios, Lorrana reconhece que a decisão de oferecer um novo dia de prova para aqueles prejudicados é importante. Ela também destaca a necessidade de o governo federal centralizar as decisões sobre a gratuidade no transporte público, garantindo que todos os candidatos, em todas as cidades, tenham igualdade de acesso ao passe livre no dia do exame.
A queda nas inscrições do Enem não é apenas uma estatística; é um reflexo das mudanças nas aspirações da juventude brasileira e nas incertezas que cercam o futuro do ensino superior no país.
