Em meio a eleições, crises climáticas e conflitos, as mulheres emergem como protagonistas na batalha contra o apocalipse iminente. Seja nas ruas, protestando com coragem, ou protegendo seus filhos nos destroços da guerra, são elas que enfrentam o horror de frente.
Na luta pela preservação da ordem democrática, o poder do voto feminino tem sido a âncora da humanidade contra os ultradireitistas. Há um ano, a maioria esmagadora das mulheres (58%) deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, impedindo a continuidade do governo de Jair Bolsonaro – se dependesse exclusivamente delas, o candidato do PT teria triunfado no primeiro turno.
Na Argentina, o cenário foi semelhante. As mulheres também impediram recentemente o triunfo do fascismo liderado por Javier Milei. Na Polônia, nas eleições parlamentares mais recentes, a muralha feminina conteve o ímpeto dos extremistas conservadores.
Uma análise do jornal espanhol “El País” revelou que essa tendência prevaleceu em 12 países – Brasil, Polônia, França, Argentina, Chile, Itália, Suíça, Áustria, Espanha, Alemanha, Portugal e Dinamarca – em eleições executivas e legislativas.
“Há um padrão que se repete nos países analisados: as mulheres votam menos em partidos e candidatos de extrema direita do que os homens”, observam os jornalistas Borja Andrino e Montse Hidalgo Pérez. “Em países europeus como Itália ou França, as diferenças podem parecer sutis, mas um ou dois pontos em um partido com amplo apoio nas urnas podem significar centenas de milhares de votos. Na Espanha, se o Vox tivesse o mesmo apoio entre homens e mulheres em julho de 2023, poderia ter conquistado meio milhão de votos a mais, uma diferença significativa dada a estreita margem do resultado final.”
Agora, mais do que nunca, as mulheres estão liderando o caminho.
As mulheres demonstraram sua influência nas eleições, e 11 delas foram nomeadas para integrar o gabinete de Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023, estabelecendo um recorde histórico no Brasil. Negociações políticas com o Centrão, liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), resultaram na saída de duas ministras do time inicial – Daniela Carneiro (Turismo) e Ana Moser (Esportes).
O mais recente revés foi a substituição da economista Rita Serrano, que foi removida da direção da Caixa Econômica Federal em favor de Carlos Vieira, associado ao grupo político de Lira em Brasília.
Rita Serrano fez uma declaração contundente em seu perfil no Instagram: “Ser uma mulher em posições de poder é sempre um desafio. Não foi fácil ver meu nome sendo exposto na imprensa por meses a fio. Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia, que é possível que uma profissional de carreira seja presidente de um grande banco e entregue resultados, que é possível ter um banco público eficiente e íntegro, e que é urgente repensar a política e promover relações humanizadas no ambiente de trabalho.”
Vale ressaltar que Rita Serrano sucedeu o bolsonarista Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa e réu em processos judiciais por assédio sexual e moral durante seu mandato, um capítulo sombrio na história.
Apesar do significativo papel do voto feminino na resistência ao fascismo em todo o mundo, a representatividade das mulheres no Brasil ainda é modesta quando comparada a outros países. De acordo com uma pesquisa da União Interparlamentar (UIP), o país ficou em 30º lugar após 43 eleições realizadas em todo o mundo em 2022. Das 513 vagas na Câmara, que é presidida por Arthur Lira, apenas 91 são ocupadas por mulheres, um número notavelmente baixo. Nesse critério, estamos abaixo de países como Somália e Quênia.
Enquanto a política brasileira continua manchada pelo machismo, as parlamentares e ministras, como Marina Silva, que lidera a pasta do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, continuam a lutar para adiar o fim do mundo com todas as suas forças.