O Impacto da Língua na Percepção de Cores dos Indígenas Tsimane

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Na vastidão da Amazônia boliviana, a sociedade indígena Tsimane enfrentou uma transformação linguística que moldou sua maneira única de enxergar o mundo e as cores que o compõem. O aprendizado do espanhol como segunda língua por parte dos Tsimane influenciou profundamente sua língua nativa, levando a uma riqueza de descrições de cores que antes eram inexistentes.

Este intrigante fenômeno foi revelado em um estudo publicado na revista Psychological Science, realizado por pesquisadores do renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. A pesquisa, conduzida pelo professor Edward Gibson, especialista em ciências cerebrais e cognitivas, aponta que aprender uma segunda língua pode expandir a paleta de cores que utilizamos para descrever o mundo natural ao nosso redor.

Os Tsimane, que incorporaram o espanhol ao seu repertório linguístico, passaram a discernir cores que anteriormente não eram contempladas em suas conversas com os membros monolíngues de sua comunidade. Para Edward Gibson, o aprendizado de uma segunda língua abre portas para a compreensão de conceitos ausentes na língua materna.

O impacto dessa influência linguística é notável. Os indígenas bilíngues Tsimane passaram a empregar termos de sua língua nativa para diferenciar as cores azul e verde, em vez de adotar palavras em espanhol para descrevê-las. Além disso, tornaram-se mais precisos ao descrever as cores amarela e vermelha, evitando a ampla gama de tons utilizados por falantes monolíngues em sua comunidade.

A autora principal do estudo, Saima Malik-Moraleda, estudante de pós-graduação no Programa de Biociência e Tecnologia da Fala e Audição da Universidade Harvard, ressalta a importância dessa descoberta como um exemplo notável dos benefícios do aprendizado de uma segunda língua. Ao adentrar uma nova língua, os indivíduos abrem uma janela para diferentes perspectivas e conceitos que podem enriquecer sua própria língua materna.

Esse fenômeno desafia as fronteiras convencionais de percepção de cores. Em pesquisas anteriores envolvendo mais de 100 línguas, incluindo o Tsimane, observou-se que falantes de diferentes idiomas tendem a desmembrar a parte “quente” do espectro de cores em um número maior de palavras do que as regiões “frias”, como azul e verde.

No entanto, a língua Tsimane apresenta uma abordagem única. Ela utiliza apenas três palavras para cores, correspondendo ao preto, branco e vermelho. Surpreendentemente, apenas dois termos, “shandyes” e “yushñus”, são empregados de forma intercambiável para qualquer matiz que se encaixe nas categorias de azul ou verde.

Esse “surgimento” de novas percepções de cores nos Tsimane bilíngues ilustra vividamente como a linguagem pode influenciar e expandir a nossa compreensão do mundo que nos rodeia, revelando um universo de nuances antes desconhecidas.

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