Em meio aos escombros da Faixa de Gaza, onde a poeira da destruição paira sobre destinos desfeitos, emerge a reflexão sobre o recente conflito entre Israel e o Hamas. Uma retaliação, que, embora legalmente amparada pelo direito de autodefesa, levanta questões profundas sobre a proporcionalidade e a humanidade.
O Estado de Israel, ao responder ao ato de terror do Hamas, desencadeou uma ofensiva que transcende os limites da guerra, transformando-se em algo que vai além de simples confronto armado. Centenas de edifícios reduzidos a destroços, milhares de vidas inocentes ceifadas, incluindo crianças e mulheres. Não é uma guerra convencional, mas sim um genocídio e uma limpeza étnica, conforme denunciado pelo secretário da ONU, António Guterres.
A falta de uma resposta contundente da comunidade internacional, particularmente da União Europeia e dos Estados Unidos, levanta preocupações sobre a insensibilidade diante do sofrimento palestino. O apoio incondicional de Joe Biden a Israel ecoa como uma carta branca para uma guerra de autodefesa ilimitada.
É neste contexto que surge a indagação: estaria o presente genocídio inscrito no paradigma ocidental moderno e globalizado? Um paradigma que, ao longo dos séculos, foi moldado pelo desejo de desenvolvimento ilimitado e domínio sobre terras, nações e natureza, relegando outras formas de conhecimento e desqualificando aqueles submetidos e colonizados.
A história, permeada pelo colonialismo e a dominação europeia, revela um padrão recorrente de desumanização dos “outros”, justificando a marginalização, incorporação ou, em última instância, eliminação. A atual acumulação desigual de riqueza, onde oito pessoas possuem o equivalente à metade mais pobre da população mundial, é um testemunho desse paradigma excludente.
Ao analisar o genocídio em Gaza, é inevitável questionar se essa tragédia está enraizada no DNA do paradigma ocidental. A instrumentalização excessiva da razão, que exclui a sensibilidade e o coração, resulta em ações irracionais que ameaçam a própria existência da humanidade.
Diante desse impasse, surge a necessidade premente de resgatar os direitos do coração. O apelo não é apenas à razão, mas também ao pathos, à capacidade de sentir, amar e cuidar. Somente unindo mente e coração podemos evitar as tragédias que assombraram nossa história, como o genocídio na Faixa de Gaza.