Uma exploração da fusão entre moda e o mundo drag, impulsionada por influências que vão além das vestimentas
Numa época em que o drag se transformou em um pilar fundamental da moda, artistas drag não só estampam capas de revistas e lideram campanhas de moda, mas também desfilam com destaque nas passarelas das semanas de moda pelo mundo. Para a geração contemporânea de fashionistas, a conexão entre moda e drag é evidente. Ambos procuram a autoexpressão, a criatividade e a liberdade através da indumentária, uma evolução notável em relação aos tempos em que esses universos eram considerados estranhos e distantes.
Antes, era quase um tabu tocar em qualquer coisa relacionada às drag queens, temendo represálias comerciais. Contudo, a dinâmica mudou drasticamente. Hoje, trabalhar com artistas drag não só é aceitável, como é aplaudido e reconhecido como um avanço. Para entender como o drag se tornou um ícone da moda, conversamos com um estilista, um historiador de moda e uma drag queen.
Em 2020, as drag queens conquistaram um marco importante na indústria da moda, quando Pabllo Vittar e Gloria Groove, figuras destacadas no cenário drag, se tornaram as primeiras a brilhar nas capas da Vogue, uma das revistas mais icônicas da história. Para Pabllo, que conta com mais de 20 milhões de seguidores no TikTok e Instagram, essa conquista foi um sonho realizado, uma prova de que o drag é sobre expressão artística e moda está no cerne disso.
Enquanto isso, Bimini, uma estrela do reality show RuPaul’s Drag Race UK, fez sua estreia na London Fashion Week para o estilista Richard Quinn, enquanto sua colega Tayce se tornou o rosto de uma campanha de fragrâncias de Jean Paul Gaultier. Além disso, modelos como Jourdan Dunn e Leomie Anderson atuaram como juradas convidadas no RuPaul’s Drag Race UK, e o editor da Vogue britânica, Edward Enninful, assumiu o papel de mentor durante um desafio de design.
As rainhas do RuPaul’s Drag Race UK também têm profundo conhecimento da história da moda, frequentemente citando designers renomados, como Vivienne Westwood e Alexander McQueen, como inspirações nas passarelas. Isso sinaliza uma simbiose única entre a alta costura e a cultura drag, onde a extravagância e a inovação reinam.
O designer Brad Callahan, cuja carreira teve início com a confecção de roupas para artistas performáticos e drag queens em Nova York, no início dos anos 2000, desempenhou um papel crucial na integração do drag na moda contemporânea. Ele destaca que a cantora Lady Gaga foi uma “ponte” que pavimentou o caminho para que as artistas drag fossem reconhecidas no mundo da moda. A busca por momentos virais tornou-se uma tendência no mundo pop, em grande parte graças a Gaga, elevando looks glamorosos ao centro da moda.
O historiador de moda Shaun Cole observa paralelos entre a influência drag dos anos 1980 e início dos anos 1990 e a cena atual. Naquela época, designers e artistas drag frequentemente dividiam espaços e inspirações. A cultura queer da década de 1980 estava enraizada na quebra de estereótipos de gênero, uma resposta ao estigma da homofobia e à epidemia de AIDS.
A moda passou a adotar a androginia e a provocação como elementos centrais. No início da década de 1990, o estilista francês Thierry Mugler trouxe a drag americana Lypsinka para as passarelas. RuPaul, também artista e apresentador de TV, se tornou o rosto da campanha de maquiagem Viva Glam, da MAC, e apareceu nas capas da Vanity Fair e Cosmopolitan.
O impacto do drag na moda atual é inegável. Maquiagem e estilo drag têm inspirado a forma como mulheres jovens usam produtos de beleza, da base aos cílios postiços. A linha entre moda e drag se esbate ainda mais com artistas drag, como Trixie Mattel e Kim Chi, lançando suas próprias marcas de maquiagem.
Atualmente, jovens designers aspiram a trabalhar com drag queens, enquanto a sociedade abraça a diversidade e a liberdade do drag. Esse movimento transformou o drag em um assunto não mais tabu, permitindo que uma nova geração conheça sua história queer e abrace a diferença.